E então?
Nasceu no fim da primeira guerra, em Agosto de 1917. Num
vilarejo chamado Silvalde, perto de Espinho, em Portugal. A quinta de nove irmãos.
Trabalhou em uma fosforeira e uma fábrica de sardinhas. Aos
13 anos sonhava em se casar.
Veio para o Brasil no fim da segunda guerra, em 1945.
Trabalhou em casa de família. E depois montou uma quitanda
no centro de Niterói, onde passou a maior parte de sua vida.
Manteve-se sempre voltada para sua fé.
Deu a luz a uma linda menina de cachinhos dourados e olhos
azuis que, por erro médico, nasceu morta. Deu a luz a uma segunda menina. Foi traída
e abandonada. Nunca casou.
Ela era a verdadeira Senhora Coração de Pedra. Dura, forte e
fria.
Passou os últimos dez anos acamada.
Nunca reclamou de nada. Sempre agradeceu por tudo.
Gostava de praia, música, piadas, estórias. Gostava do
ursinho de pelúcia que ficava na minha cama e do enfeite da cortina. Amava
flores. Mas quase nunca se permitia gostar.
Tinha um jargão pra cada situação, quase todos ácidos!
Era apaixonada por meu pai e meu irmão.
Sempre estava disposta a fazer o que fosse pra melhorar.
Amava comer.
Era a última dos nove irmãos.
Era a última dos nove irmãos.
No fim de maio ela começou a ficar mais quietinha, coração
fraquinho, pulmão cansado. Foi internada, passou 10 dias no hospital e no dia
1º de junho se foi.
E fim.
Um comentário:
Lindo texto...
Sylvia
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