sexta-feira, 15 de maio de 2015

Depois de uma vida.

                   Ser chefe é pra mim o momento de sentimentos mais variados e ambíguos da minha vida escoteira. 
            Como chefe nada norteou mais minha boa vontade e minhas ações do que o exemplo de caráter de Kobould e de Cheong, o apoio emocional da Mell e o bem querer pela tropa. Essa foi, por muito tempo, minha cartilha, nada além disso.
            Então passei alguns anos retribuindo aos mais novos um pouco do amor que senti quando jovem. Inclusive cruzei com uns dois, seis ou dez jovens a linha que divide a camaradagem e aconselhamento da amizade e do amor. Éramos amigos e irmãos até a página dois, três, oito... 
            Seus sucessos me davam alegria plena e cada atitude menos virtuosa me geravam mágoas. Sempre tive medo de não ser boa o suficiente pra eles, tenho até hoje. Em qualquer situação, em qualquer lugar pensava: como posso agir assim e ainda me considerar uma boa chefe? Que exemplo eu estou sendo?! 
            Minha teoria de aplicação do método escoteiro nunca foi boa, pra dizer o mínimo. E a técnica prática vinha do tempo que passava no ônibus lendo o guia sênior. Isso por um tempo nem chegou a me preocupar ou me deixar descontente com meu serviço. Até um belo dia, num acampamento onde tudo deu errado, Ana Paula me fez o grande favor de me mostrar que tudo o que estávamos fazendo ali não passava de recreação. Foi uma critica que pra mim foi novidade e desconstruiu meu mundinho perfeito e me mostrou a lista infinda de erros que vinha cometendo.

            E quando procurei o Lavoyer, que era o cara com mais conhecimento técnico, pra me ajudar, ele com o máximo possível de doçura me mandou procurar o DT. Alguns problemas eu nem conseguia identificar como problemas pra poder pedir ajuda outros tentava resolver à minha maneira. Algo que me ajudou um bocado foi trocar experiências com Bruno ou Monica que têm anos de ramo e já passaram por muitas coisas.
            Cheguei a alguns bons resultados, inegavelmente! Aqueles jovens que entraram no dia do escoteiro da minha época de pioneira passaram a ser meus sêniores e guias. Jovens, diga-se de passagem, brilhantes, que me ajudaram tanto ou mais do que eu a eles. Qualquer pessoa bem intencionada teria feito um trabalho bom com eles, mas me encho de alegria de pensar que eu era essa pessoa. Mas sei que na verdade, quando eu cheguei grande parte do espírito escoteiro já estava arraigado dentro deles, graças ao Leo, Álvaro e principalmente Kobould. Hoje sei que se eu tivesse aplicado o mesmo programa que aplico agora com aqueles jovens eles teriam alcançado níveis estratosfericamente fodas.
            Depois chegou o Rômullo, incrivelmente prático e direto. E me mostrou, com uma dose extra de secura que o trabalho que estávamos fazendo era legal, cheio do componente afeto, mas pobre de técnica e principalmente objetivos educacionais. 
            Já tive mil oportunidades de desistir do grupo. Enfrentei o que pra mim foram grandes desafios para pertencer a esse grupo. Desfiz amizades por conta dele, discuti infindas vezes com meus pais por conta dele. Dediquei e dedico horas toda semana pra planejar e executar o que eu julgo ser o melhor possível para meus meninos.             
          Fiquei triste quando percebi que pessoas tão importantes para mim conseguiam me ver como uma pessoa egoísta que não pensa primeiro no grupo. Vi claramente algumas dessas pessoas duvidando das minhas intenções se afastando de mim. Outra coisa que me magoa muito é quando não consigo mostrar ao jovem que ele pode ser melhor e agir melhor. É bastante frustrante às vezes. Mas algumas famílias são mais complicadas do que posso lidar.
            Sempre que falo que ainda sou escoteira me perguntam o porquê. A resposta é tão simples; porque sei que fiz alguma diferença pra melhor na vida de alguns desses meninos e por isso já me dou por satisfeita. Sem falar que a companhia despreocupada deles me faz tão bem.
                 E hoje, 20 anos depois de ter ingressado no GESFA vejo que ainda tenho muito que aprender pra conseguir ajudar os jovens. Mas ver minhas crianças agora adultas do meu lado no corpo de chefes faz meu coração transbordar de alegria. Orgulho tão grande, que me dá a coragem que preciso pra não desistir.
            Esse ano decidimos mudar a abordagem e dedicar mais tempo para colocar o método 100% em ação. Coincidência ou não a tropa já está maior! Parece que as coisas estão fluindo. Reabrir outra patrulha e com a expectativa de logo reabrir mais uma me dá um ânimo incrível.
                Cheguei na tropa com 3 jovens, por um tempo fomos só eles e eu! E agora, cinco anos depois, somos eu com mais três formando a melhor equipe do mundo de chefes e mais 18 jovens!

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